Irrecorrível


Mesmo que prevista, a ida é uma sentença sem cálculos. Ainda que o tempo se antecipe a diagnosticar, como entender uma despedida tão prematura e jovem?  Fato tão corriqueiro, co-ausente e finito, porém, sempre inesperado. Não há quem defina ou se acostume com a dor da perda. O improviso da vida é um misto de mistério e esperança. O adeus é tão súbito e inopino que silenciam palavras. Atônito! Até o sistema límbico, responsável pelas emoções, não percebe a partida como um susto, e sim, como um desfecho incrédulo e sempre inaceitável.

Quantos sonhos já vimos a realidade forjar algum sentido em pleno ápice da vida? Quantos planos a gente viu desaguar na incompreensão, quantos ângulos distorceram a ótica, quantos caminhos se perderam no fatídico atalho do cotidiano?   Quem pensou num amanhã ensolarado, muitas vezes o viu amanhecer em chuvas. Para muitos artistas é de forma repentina que o ensaio acaba e a cortina fecha.  Quem fica, perde a próxima dança, mas jamais a música. Os passos radicais do tempo, também são compassos de um escopo cheio de bálsamo.

O que atenua e abranda a nuance da existência são os sentimentos deixados por quem se vai. Não há consolo maior que o amor, sendo ele também o potinho da fé. O que guardamos no coração é imortal. Olhando para o curta-metragem que passou pela minha ótica nos últimos meses, entendo que não foi apenas um piscar de olhos. Observei uma força inigualável, uma coragem sem restrição, positividade incansável, alegria sem tamanho, fé incontestável, e, sobretudo muito amor por viver. Estou falando de um jovem guerreiro que usou como armas a música, que lutou contra o câncer com muita fé e jamais deixou de acreditar na vida. Para você não dedico apenas minha conta sanguínea de afetos, mas toda a gratidão pelo que deixaste no meu coração. Descanse em paz, Geraldo Souza Leão!

“Pra quem tem fé, a vida nunca tem fim”...


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